Foto: reprodução/Internet
Em junho, a Companhia de Dança Deborah Colker estará pela primeira vez no Teatro Santander, localizado no Complexo JK Iguatemi, em São Paulo, para comemorar seu trigésimo aniversário e apresentar o espetáculo inédito “Sagração”. Na versão dirigida por Deborah Colker, a música clássica de Stravinsky encontra ritmos brasileiros em um roteiro inspirado por visões ancestrais sobre a origem do mundo.
O espetáculo é apresentado pelo Ministério da Cultura e Instituto Cultural Vale, patrocinado pela Petrobras e apoiado pelo Santander por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), Ministério da Cultura e Governo Federal – União e Reconstrução. As apresentações fazem parte da temporada 2024 da Companhia, com a turnê celebrativa dos seus 30 anos.
Três décadas de evolução artística
“Ao longo dessas três décadas, assistimos e participamos de muitas transformações na cultura, na política e na economia. Chegamos até aqui porque temos este espírito de evolução, que é um tema muito precioso para o novo espetáculo”, avalia o diretor executivo João Elias, que em 1994 fundou a companhia de dança com Deborah Colker.
O processo criativo de “Sagração” durou dois anos e meio. O espetáculo é uma livre adaptação de “A Sagração da Primavera”, obra composta pelo russo Igor Stravinsky, que ganhou projeção mundial pela montagem estreada em Paris em 1913, com coreografia de Vaslav Nijinsky e produção de Sergei Diaghilev para os Ballets Russes. A composição musical é considerada revolucionária por introduzir estruturas rítmicas e harmônicas nunca utilizadas em partituras.
Uma visão brasileira da obra clássica
“Quando decidi recontar esse clássico, pensei que teria de ser a partir da cosmovisão de povos originários do Brasil”, lembra Deborah, que também é pianista. “Stravinsky foi responsável por pontos de ruptura e provocação entre o erudito e o primitivo. ‘A Sagração da Primavera’ representa esses pontos de evolução da humanidade”.
Foi em uma viagem para o Xingu, durante o Kuarup, e no encontro com as aldeias indígenas Kalapalo e Kuikuro, que Deborah conheceu Takumã Kuikuro. O cineasta contou a ela como o povo do chão recebeu o fogo do Urubu Rei. Essa história é dançada e acompanhada por narração do próprio Takumã e faz parte da coleção de cosmogonias que a diretora reuniu para montar a dramaturgia do espetáculo.
“Tudo só poderia ter começado com uma mulher. Uma avó. A avó do mundo”, conclui Deborah, que, na companhia de Nilton Bonder, revisitou a mitologia judaico-cristã. Do livro “Gênesis”, as passagens sobre Eva e a serpente e sobre Abraão ganham cenas que destacam momentos de ruptura. “São dois mitos que elaboram sobre a consciência humana: pela autonomia de uma mulher que desperta para caminhos interditados e transgride; e de um homem que sai da sua casa e cultura em direção a si mesmo”, destaca o dramaturgo. Além das alegorias bíblicas, a coreógrafa também buscou referências na literatura científica.
A evolução da espécie representada na dança
“A versão mais recente da nossa espécie é a Homo sapiens sapiens que, assim como outros seres, precisa se adaptar constantemente”, pontua Deborah, destacando a presença das personagens que representam bactérias, herbívoros e quadrúpedes no espetáculo. “Nossa dramaturgia é feita da poesia presente em mitos e teorias que pensam a existência da vida em nosso planeta”. A coreógrafa, em parceria com o diretor musical Alexandre Elias, introduziu à partitura instrumental de Stravinsky a sonoridade pujante das florestas e ritmos brasileiros.
Boi bumbá, coco, afoxé e samba foram introduzidos à criação de Stravinsky. Aos acordes de instrumentos de orquestra, o diretor musical adicionou flauta de madeira, maracá, caxixi e tambores. Os paus de chuva também entram em cena no arranjo executado ao vivo pelos bailarinos. Para Alexandre Elias, “foi um privilégio trabalhar profundamente na estrutura da obra”.
Serviço
- Data: De 14 a 30 de junho de 2024
- Horários:
- Quartas-feiras, Quintas-feiras, Sextas-feiras e Sábados, às 20h
- Domingos, às 18h
- Duração: 70 minutos (sem intervalo)
- Local: Teatro Santander
- Endereço: Shopping JK Iguatemi – Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041
Fonte: Dança Brasil