Grupo Corpo faz temporada no Teatro Sérgio Cardoso com “O Corpo” e “Benguelê” entre 15 de agosto e 1º de setembro

Foto: José Luiz Pederneiras

A temporada paulistana do segundo semestre de 2024 do Grupo corpo, que acontece de 15 de agosto a 1º de setembro no Teatro Sérgio Cardoso, junta no programa duas obras de estética e ambientação muito diversas. O Corpo, que estreou no ano 2000, tem trilha do ex-Titã Arnaldo Antunes; Benguelê, de 1998, é voz de ancestralidades, folguedos populares, da mistura cultural e da força do Brasil afro. Ambas voltam a São Paulo depois de longa ausência – O Corpo foi visto na cidade em 2011 pela última vez e Benguelê, em 2012.

As duas coreografias de Rodrigo Pederneiras, reunidas nesse programa, traduzem a brasilidade urbana e sertaneja, do Sudeste e do Nordeste, do tecnopop vertiginoso e da tradição em artesania.

O Grupo Corpo tem patrocínio master do Instituto Cultural Vale e da Cemig, e patrocínio do Itaú Unibanco, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

O Corpo

 Com o palco às escuras, as vozes filtradas puxam o mote: pé/mão/pé/mão. No fundo, piscam luzes vermelhas como as de um painel eletrônico. Os bailarinos, de malha preta pontuada por amarrações e volumes, mergulham na batida tecno enquanto as palavras (mão/umbigo/braço) vão se tornando mais e mais percussivas, mais som e menos significado. Tambores eletrônicos ressoam, permeados por melodias de várias origens – do funk à música árabe, do baião ao reggae.

Assim começa O Corpo, a primeira criação para a dança do compositor, escritor, poeta e performer Arnaldo Antunes. Ele partiu para uma tradução musical, sonora e semântica do corpo, como organismo e como engrenagem, mecanismo. É o corpo, então, “esse composto de ossos carne sangue órgãos músculos nervos unhas e pelos” que preside a peça de oito movimentos gravada com instrumentos acústicos, elétricos e eletrônicos; ruídos orgânicos como grunhidos, gritos e sangue nas veias fundem-se com guitarras, violões, teclados, baixo, percussão e as vozes de Arnaldo, Saadet Türkoz e Mônica Salmaso.

Neste balé, que celebrou no ano 2000 os 25 anos do Grupo corpo, Rodrigo Pederneiras arquitetou movimentos mais secos e vertiginosos para a companhia. A pulsação ao mesmo tempo tribal e futurista incorpora-se nos movimentos, que vão do fetal, intrauterino, ao autômato.

O linóleo é vermelho e o cenário virtual, projetado por Paulo Pederneiras, faz a sincronização de luzes vermelhas em diversas saturações, muitas vezes acompanhando a trilha e dialogando com graves e agudos; um quadrado branco delimita, aqui e ali, o espaço cênico.

O Corpo (2000)

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Arnaldo Antunes
Cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras
Figurino: Freusa Zechmeister e Fernando Velloso

Banda: guitarras (Edgard Scandurra) / violões (Paulo Tatit e Alê Siqueira) / baixo (Paulo Tatit) / teclados (Zaba Moreau) / percussão (Guilherme Kastrup) / voz (Arnaldo, Saadet Türkoz e Mônica Salmaso)
(duração: 42 minutos)
Classificação indicativa: livre

Benguelê

Negro, árabe, indígena; popular e erudito; oceânico e desértico. E intenso. A peça musical de João Bosco, artista mineiro e universal como é o Grupo Corpo, transita pela miscigenação amorosa do Brasil a partir do jongo eternizado em 1965 por Clementina de Jesus (a canção Benguelê, de Pixinguinha e Gastão Vianna), que surge em arranjo a capela. São onze temas especialmente criados (ou recriados) por Bosco, iluminados pela Mãe África e enriquecidos pelas influências cruzadas em uma festa brasileira.

A saudade do chão natal, porém – o banzo – é uma origem possível da palavra que dá título ao balé: a fusão de Benguela, região situada ao sudoeste de Angola, com o fonema  − em quimbundo, nostalgia, saudade.  O sentimento do banzo, melancólico e ao mesmo tempo enérgico, preside a trilha de Bosco.

 A música negra de raiz, produzida pelos descendentes de escravizados no Rio de Janeiro − é evocada em TarantáCarreiro Bebe e, principalmente, em Benguelê. Pixinguinha é citado também, com trechos de 1 x 0 (inspiração do choro-goleada) de e Urubu Malandro.

Essa rica mistura das influências europeia, oriental, do sertão e da rica negritude ganhou a roupagem de uma banda de feras: além do próprio Bosco (violão acústico e vozes) contou com Jacques Morelenbaum (violoncelo), Osvaldinho do Acordeom (acordeom), Proveta (sax e clarineta), Ricardo Silveira (viola de 12 e violão de aço), Nico Assunção (contrabaixo), Robertinho Silva e Armando Marçal (percussão), além do tenor Sandro Assunção (uma das vozes de Travessia).

Benguelê é explosivo”, dizia o coreógrafo Rodrigo Pederneiras na estreia do balé, em 1998.  Tida como a criação mais fincada na referência das danças populares brasileiras até então, a coreografia repleta de marcações de pé, de pélvis, de ombro, muita mão no quadril e remelexo de cintura se desdobram no festivo, no ritualístico, no ancestral mesmo, com figuras humanas vergadas pelo tempo e imagens animalizadas.

A ocupação do espaço é, na maior parte do tempo, anárquica, frenética; a exceção é no momento da Travessia, quando os bailarinos ocupam também uma passarela que divide o palco em dois planos. A cenografia de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras, em tons escuros de breu e grafite, faz contraponto com a mistura final de todas as cores nos figurinos de Freusa Zechmeister, que adota o branco como matriz e trabalha com a sobreposição de tecidos. 

Se nos primeiros três quartos do espetáculo, o rito afro, o jogo de roda, a quadrilha, os cortejos e as danças dos devotos se misturam, no palco e nos ouvidos, o final é pura festa, com a coroação do Rei do Congo explodindo em cores e alegria.

Benguelê (1998)

coreografia: Rodrigo Pederneiras
música: João Bosco
cenografia: Fernando Velloso e Paulo Pederneiras
figurino: Freusa Zechmeister
iluminação: Paulo Pederneiras

banda: João Bosco (violão acústico e vozes), Jacques Morelenbaum (violoncelo), Osvaldinho do Acordeom (acordeom), Proveta (sax e clarineta), Ricardo Silveira (viola de 12/ violão de aço), Nico Assunção (contrabaixo), Robertinho Silva e Armando Marçal (percussão), Sandro Assunção (voz em Travessia).
(duração: 41 minutos)
Classificação indicativa: livre

GRUPO CORPO

 LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA
Patrocínio master: INSTITUTO CULTURAL VALE e CEMIG
Patrocínio: ITAÚ UNIBANCO
Realização: MINISTÉRIO DA CULTURA e GOVERNO FEDERAL

SERVIÇO
O Corpo e  Benguelê
Teatro Sérgio Cardoso
Endereço: R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista

15 de agosto a 1º de setembro
[quarta a sábado – 20h; domingo – 16h]

Ingressos:
Bilheteria do Teatro Sérgio Cardoso
(de terça a sábado, das 14h às 19h)

(11) 3288.0136
Online pela Sympla

Plateia Central – R$210,00 (inteira) | R$105,00 (meia)
Plateia Lateral – R$180,00 (inteira) | R$90,00 (meia)
Balcão R$40,00 (inteira) | R$20,00 (meia)
Classificação indicativa: livre
Duração: 1h44 (com intervalo de 20 min.)